quarta-feira, 11 de abril de 2007

Respire a Vida


"Você mede teu tempo de vida pelo número de vezes que já respirou ou pelo número de vezes que já te tiraram a respiração?"
Eu não costumo "medir" assim a vida, por isso não consigo responder diretamente mas refleti...
Percebo nessa pergunta, a comparação da importância entre aquilo que é nosso e aquilo que é dos outros em nós.
Acho que o que absorvemos dos outros é muito importante, as pessoas que nos passam sabeduria ou das quais aprendemos somente observando-as, extraindo coisas do mundo inconsciente através de nossos sonhos.
Tudo o que absorvemos do que está à nossa volta é a nossa vida.
Somos feitos dos outros.
É por isso que o número de vezes que me tiram a respiração são aquelas vezes em que deixo de ter controle sobre os meus passos e me deixo levar por uma força exterior a mim, essas vezes, são importantes, mas andam paralelo com as vezes em que respiro, porque isso sou eu, vivendo o cotidiano, o dia a dia.
E os dias pouco importantes são aqueles em que construimos aquilo que faz os dias importantes serem assim.
Há tempos atrás pensava que quando consultamos nossa memória, ou seja, aquela altura em que "medimos o número de vezes que respiramos", só restassem nas lembranças as coisas muito boas e as coisas muito más (o que vivemos com intensidade suficiente para internalizar).
Agora sinto que há mais do que isso, descobri que acima de tudo, nossa memória anda junto a imaginação, com o que não existiu.
"a poética do espaço" fez-me encontrar este lado da memória onde acabamos por confundir o que é realidade e o que é sonho e devaneio.
Na memória guardam-se também os dias que não vivemos.
E os que vivemos sem saber.
E os cheiros e os sabores e os sons que não sabemos que guardamos.
Nunca aconteceu de você cheirar um cheiro, ouvir um som, sentir um sabor, que te leva para um lugar que vocês já não imaginavam existir na memória.
Nossa memória reside no sotão da alma.
É por isso que acho importante aqueles dias em que "somente" respiramos para que além de serem "conscientes", guardem neles nossas memórias para que possamos descobrir-nos enquanto vivemos outros dias diferentes desses dias normais.
E depois, quando nos "tiram a respiração", a memória fragmenta-se, abre buracos, faz fendas.
Esses dias são normalmente vividos com um tempo diferente, muito depressa ou bem devagar, muito bom ou muito mau.
Estes repetem-se tantas vezes que preechem as nossas histórias com as cores que queremos pintar.
Já os dias normais, são o fundo, o cenário, as cores que a vida nos pinta nos dias onde existimos outra vez.

Um comentário:

Clara Gomes disse...

"Somos feitos dos outros" me lembrou "o inferno são os outros" - se bem que prefiro a sua à do Sartre.

Beijos!